25 de abril de 2014

C'est extrêmement important

"Si l'on procède avec trop d'ordre, c'est-à-dire en ayant des notes, des fiches, des souvenirs classés, et si on essaie de les appliquer mécaniquement, arbitrairement, je crois qu'on s'éloigne de la vie ; il faut se méfier énormément des connaissances et des théories ; il faut les avoir, mais il faut essayer d'abord chaque sujet comme si l'on ne savait rien, comme si l'on était tout à fait nouveau, et comme si le sujet était inconnu. Si l'on n'aborde pas un sujet avec une certaine fraîcheur, on n'est pas vivant, on est mort. Il faut aussi s'amuser en faisant des films, c'est extrêmement important, je me suis amusé en faisant Le Carrosse ; cela a été très pénible, cela a été très dur, mais je me suis énormément amusé."

Jean Renoir, Jean Renoir - entretiens et propos

31 de março de 2014

Tempos modernos

Demasiadas vezes se fala na morte do cinema e não tantas como se deveria do seu futuro. Ontem, no início de dois filmes de Charlie Chaplin no Teatro Nacional de São Carlos, os meus olhares mais insistentes nem foram para o que de magnífico acontecia no ecrã. Foram, de cabeça para trás e olhos para cima, em direcção à luz que saía de um projector no camarote presidencial que iluminava, na escuridão de um grandioso teatro, os olhares dos espectadores, dando a penumbra a uma sala onde se juntavam três a quatro gerações diferentes num movimento eterno em si mesmo. O que leva tantas pessoas e idades diferentes a uma sala onde se junta a mais dispendiosa arte cénica à mais precária das artes do movimento? É a vida, os seus sentimentos e as emoções que são as suas fontes. 

Enquanto formos vivos, esse olhar e esse desejo de nos comovermos continuarão a existir sempre. Felizmente, são os sentidos que nos comandam, fazendo-nos sentir que existe algo maior do que a nossa existência e que esse algo maior também nos pertence. E, por fim, que nos dão a ilusão de um movimento do tamanho dessa sala e da soma de idades que nela se juntou: maduro e inocente, curioso e grande, acolhendo o riso de cada criança para a tela da mesma maneira que acolhe os olhos comovidos dos adultos que sentem a sua inocência perdida. 

É isso o cinema: bonito e eterno, juntando-nos por aquilo que somos e sentimos, sem idade nem lugar para que se julgue aquilo que vivemos. E que nos faça sentir que a vida nunca termina quando os olhos se abrem a ela.

26 de março de 2014

"Lorsque j'étais petit garçon... je remonte loin dans mon enfance. L'enfance, ce grand territoire d'où chacun est sorti! D'où suis-je? Je suis de mon enfance. Je suis de mon enfance comme d'un pays."

(Antoine de Saint-Exupéry, Pilote de guerre)

19 de março de 2014

Cumplicidades silenciosas em todas as vidas

"(...) sentia o insaciável desejo dos artistas, que é encontrar encorajamentos em todas as bocas, admiração em todos os olhares, cumplicidades silenciosas em todas as vidas (...)"

Élie Faure, Paul Cézanne

15 de março de 2014

"Oui, cette librairie n'a pas été simplement un refuge mais aussi une étape dans ma vie. J'y restais souvent jusqu'à l'heure de la fermeture. Une chaise était placée près des rayonnages ou plutôt un grand escabeau. Je m'y asseyais pour feuilleter les livres et les albums illustrées. Je me demandais s'il se rendait compte de ma présence. Au bout de quelques jours, sans interrompre sa lecture, il me disait une phrase, toujours la même: "Alors, vous trouvez votre bonheur?" Plus tard, quelqu'un m'a déclaré avec beaucoup d'assurance que la seule chose dont on ne peut pas se souvenir c'est le timbre des voix. Pourtant, encore aujourd'hui, au cours de mes nuits d'insomnie, j'entends souvent la voix à l'accent parisien - celui des rues en pente - me dire: "Alors, vous trouvez votre bonheur?" Et cette phrase n'a rien perdu de sa gentillesse et de son mystère."

Patrick Modiano, Dans le café de la jeunesse perdue

10 de fevereiro de 2014

- Mais si le spectateur cinématographique ne se trouve pas en face d'un personnage réel, croyez-vous que cela puisse gêner son identification au personnage ? Autrement dit, est-ce que le spectateur cinématographique, qui n'a donc devant lui que des fantômes, ne s'identifie pas aussi bien à un fantôme qu'à un acteur fait de chair et de sang ?
- Pour cela, il faut être très bon public.

(Entretiens sur le cinématographe, Jean Cocteau)

4 de fevereiro de 2014

Le privilège du cinématographe

"Le privilège du cinématographe, c’est qu’il permet à un grand nombre de personnes de rêver ensemble le même rêve et de montrer en outre avec la rigueur du réalisme les fantasmes de l’irréalité. Bref, c’est un admirable véhicule de poésie. Mon film n’est pas autre chose qu’une séance de striptease consistant à ôter peu à peu mon corps et montrer mon âme toute nue. Car il existe un considérable public de l’ombre affamé de ce plus vrai que le vrai qui sera un jour le signe de notre époque. Voilà le lègue d’un poète aux jeunesses successives qui l’ont toujours soutenu."

(Jean Cocteau, Le testament d'Orphée)

28 de janeiro de 2014

We shall overcome, some day. 
Oh, deep in my heart, I do believe 
We shall overcome, some day. 

We'll walk hand in hand, some day. 
Oh, deep in my heart, I do believe 
We shall overcome, some day. 

We shall live in peace, some day. 
Oh, deep in my heart, I do believe 
We shall overcome, some day. 

We are not afraid, today 
Oh, deep in my heart, I do believe 
We shall overcome, some day. 

23 de janeiro de 2014

Vous n'avez encore rien vu

Alain Resnais, entre os vivos, pertence já aos deuses - pergunto-me mesmo se não será como os deuses antigos cujas histórias lemos e que, tomando a forma humana, pegam na realidade para fazer dela um jogo de percepção seu, onde sentimentos respondem a sentimentos, actos respondem a palavras, palavras respondem a olhares. Nada surpreende mas tudo espanta, nada se desfaz mas tudo renasce. Esse jogo com a realidade, tal como esses deuses, Resnais fá-lo porque nada é sem os seus - os rostos humanos que vivem nos actores e as pessoas que se dão à sua encenação. Essa encenação, é sobre nós e para nós, devolvendo-nos a vida com cada poro que se respira -  mas sem vangloriá-la -, celebrando o seu movimento, a sua encenação, os seus efeitos, trazendo a verdade para aquilo que vem do artifício. Resnais foi para o cinema e tornou-se cinema, e tal como esses deuses, tudo aquilo em que toca move-se para além do que se explica e se espera. 

De forma bem mais simples, a minha maneira de celebrá-lo é dizendo: há duas horas atrás, a minha vida pouco me parecia interessante (dentro da ficção que decidi criar para mim, esta noite, antes de me entregar aos sonhos), mas depois de Vous n'avez encore rien vu, sinto que tudo vi na vida e tudo terei ainda para ver em tudo o que vier pela frente. 

Não há lições no cinema de Resnais, há uma vontade de viver e aceitar tudo o que a vida tem de bom, de mau, de bonito, até de feio, e sobretudo, vendo o verdadeiro no falso, e o pequeno jogo falso que fazemos para nós a partir do que sentimos ser verdadeiro. Amour, amour, je t'aime tant, cantava-se numa outra música, num outro filme. Pego nessas palavras e canto-as para mim embalado pelo movimento de Resnais, também me dizendo que me ama porque sem o meu olhar, nada dele, nada de mim existe. 

10 de janeiro de 2014

"A distinction is made between artists who work directly from nature and those who work purely from imagination. Neither of these methods should be preferred to the exclusion of the other."

Henri Matisse